Sobre juízos sumários de culpa
Sílvia Regina Becker Pinto
Publicada em 29/06/2020 - Jornal NH
Em 03 de maio de 2007, Madaleine McCann, uma menina de apenas 03 anos de idade, desapareceu, misteriosamente, do quarto de um “resort” na Praia da Luz, no Algarve, localizada cerca de 200 km de Lisboa, em Portugal.
Naquele dia, por volta das 21h, seus pais, os médicos ingleses Kate e Gerry McCann, saíram para jantar com amigos, deixando Madeleine com seus irmãos gêmeos no quarto. Quando Kate voltou ao cômodo, isso em torno das 22h, a menina não estava mais na cama. Os irmãos dela, sim, estavam.
Eu estudava em Portugal naquela época e os jornais não falavam de outra coisa. O desaparecimento da menina chocou o mundo, mobilizou as autoridades policiais, e a mídia acompanhou as incansáveis buscas inexitosas por Madaleine.
O caso é cercado de mistério, exposição e declarações contraditórias: os pais, que se afirmavam desesperados; que sentiam o peso da culpa por terem deixado as crianças sozinhas; que aparentavam sofrimento atroz, da condição de vítimas logo passaram a de “suspeitos” de serem os autores da morte e da ocultação do cadáver da filha.
Sim, especulou-se muito que “Maddie”, como era chamada, pudesse ter morrido acidentalmente (por medicamentos dados pelos genitores) e os pais estariam simulando um rapto para encobrir a situação.
Kate, lembro bem, chegou a escrever um livro com o nome da filha, com revelações de um diário pessoal onde anotava os dias de sofrimento. Os pais revelaram, adiante, que, até hoje, compram presentes de aniversário para a menina, mantendo viva a presença dela.
Pois, agora, em 2020, alguns dias atrás, a Polícia alemã divulgou o nome de um suspeito pelo desaparecimento de Madaleine McCann, dizendo que que acredita que a menina está morta.
Ele seria Christian Brueckner, um predador sexual alemão que teria morado no Algarve por mais de 10 anos, inclusive na época em que Maddie desapareceu. Consta que, no dia seguinte do desaparecimento de Madaleine, ele teria passado seu carro para o nome de outra pessoa, teria abandonado a casa em que residia para ir viver em uma van. Ainda, que ele já praticado furtos em hotéis locais, forçado a entrada no apartamento onde a Família McCann passava férias.
Fico aqui a pensar no casal McCann, que abandonou Portugal, onde já havia sido sumariamente condenado, pela opinião pública, por “matar” a filha...Fico pensando na dor de perder uma filha e ainda ter de suportar uma “condenação” sumária injusta, por fato que não praticou. Assassinatos de reputações matam pessoas em vida. Mario Rosa, em “Era do Escândalo” mostra como isso acaba com o ser humano. Recomendo a leitura.
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